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Uma vida marcada pelo Assédio
“Eu tinha por volta de nove ou dez anos de idade quando aconteceu. Lembro-me de já ser noite, e eu estava esperando a minha mãe chegar a casa”. Assim se inicia o relato de Bruna Masson, estudante de pós-graduação em gestão publica, hoje com 29 anos. Ela nos contou como foi uma das piores experiências de sua vida, quando sua mãe foi vitima de uma tentativa de estupro.
Joana estava voltando do seu trabalho quando parou para pedir informações a um rapaz que estava por perto. Ele mostrou-se prestativo e se ofereceu para lhe indicar o caminho. Quando estavam passando por um ponto mais distante, foi surpreendida por uma abordagem violenta. O homem a agarrou pelo braço e a levou para um terreno baldio próximo. Joana lutou com seu agressor e com muita dificuldade se livrou do ataque, porem muito machucada e debilitada; “Ela conseguiu apanhar um pedaço de pau e atingi-lo na cabeça, foi quando ele desmaiou” conta Bruna.
Após se livrar do agressor, Joana saiu para encontrar o caminho de casa e conseguiu embarcar num ônibus. “Eu me lembro claramente da roupa que minha mãe estava usando, uma saia branca e uma camisa com bolinhas verdes. Ela estava toda suja e com muitos hematomas pelo corpo”, e completou “ Ela chamou meus irmãos e eu e nos contou o que tinha acontecido, acho que lá fez isso como uma forma de nos prevenir.” A partir daquele momento tudo mudou, a vida não seria mais a mesma. O medo tornou-se constante e a mãe orientava aos irmãos de Bruna que a levassem a escola todos os dias e a falta de confiança em todos ao seu redor, principalmente homens, causaram efeito devastador, um estigma que carrega até hoje. “Ainda hoje andamos na rua e minha mãe sente medo, o psicológico dela ainda ficou muito afetado, nunca vai passar”, disse Bruna que também sente os mesmos medos.
Trauma revivido
O primeiro contato de Joana foi ainda na infância. Durante a nossa conversa, Bruna também conta que a mãe já tinha um triste histórico com a violência. Quando criança ela foi abusada por um tio dentro de sua casa e ao contar a sua mãe não teve respaldo, uma vez que ela não acreditou em seu relato. Anos mais tarde já na vida adulta, voltaria a sofrer com um marido violento e abusivo, que sempre a deixava com marcas visíveis. Do qual se separou depois de agressões recorrentes.
Nunca houve denuncia
Masson fala com tristeza e ate indignação que a mãe nunca conseguiu denunciar seus agressores. Na infância ela estava sozinha e não tinha maturidade para agir diante de sua situação. Quando casada o então marido a intimidava usando os filhos e a fazendo sentir egoísta por “deixar as crianças sem pai”. E no ultimo caso, foi ameaçada também por causa dos filhos, “O homem deixou claro que sabia ande minha mãe vivia e que sabias que ela tinha filhos, isso bastou para amedrontar minha mãe por muitos anos”.
O que mais choca no relato de Bruna é quando ela conta que a mãe ainda hoje tem de encontrar com seus agressores, e sente que não pode fazer nada. Uma refém da violência que a afetara pelo resto de sua vida.
O nome da mãe de Bruna foi preservado a seu pedido.