Em 2015, o grupo conquistou a aprovação do Projeto de Lei n° 8444/2015, que o reconhece como capacitado para representar a comunidade e a Parada do Orgulho como evento cultural anual
Colaboração: Caroline Camargo - 02 de junho de 2022 às 17h20
Segundo dados obtidos pela emissora CNN, o primeiro semestre de 2022 registrou um aumento de 16,6% nos casos de lesão corporal contra pessoas LGBTQIA+ no estado de São Paulo, em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com a pesquisa, a cada duas horas um Boletim de Ocorrência é registrado por homofobia ou transfobia no estado.
Boletins de ocorrência por homofobia e transfobia em São Paulo
Em 2021, ao menos 300 pessoas foram mortas de forma violenta, vítimas de homofobia. Foram 276 homicídios (92% do total) e 24 suicídios (8%).
O aumento dos ataques contra a comunidade LGBTQIA + é, muitas vezes, legitimado pelos discursos de ódio e métodos conservadores adquiridos pelo atual presidente da república. O claro desinteresse do governo pelas políticas de proteção à comunidade LGBT torna seus adversários envolvidos na causa.
“A maneira como o Governo do Estado se esforçou para ser referência na vacinação, se antagonizando com as políticas bolsonarista, fez como que este governo se alinhasse a políticas públicas direcionadas às minorias e, consequentemente, nosso governo municipal, tendo a mesma gestão, segue também por esse caminho”, avalia Giovanni Neves, membro da diretoria do Movimento Aliados, de Jundiaí.
Na região metropolitana de São Paulo grupos independentes se movimentam para acolher essas pessoas e validarem suas lutas. O Movimento Aliados é um movimento originário de Jundiaí-SP que busca lutar pela garantia dos direitos das pessoas LGBTQIA+ na região.
Em 2021, ao menos 300 pessoas foram mortas de forma violenta, vítimas de homofobia. Foram 276 homicídios (92% do total) e 24 suicídios (8%).
Em 2015, o grupo conquistou a aprovação do Projeto de Lei n° 8444/2015 que reconhece o Movimento Aliados como um movimento LGBTQIA+ capacitado para representar a comunidade e a Parada do Orgulho como evento cultural anual, sendo incluída no calendário municipal. “Isso foi um grande avanço e hoje, mesmo tendo um governo conservador, somos assegurados por essa lei e tudo que fazemos é orbitando ela”, comenta Giovanni.
Mesmo em contradição com medidas tomadas pelo atual governo municipal, representantes do Aliados foram escolhidos para representar a diversidade no evento Governo na Área, onde o atual governador do estado de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), anunciou os investimentos destinado à região metropolitana, entre eles a aprovação de verba para realização da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Jundiaí.
No entanto, mesmo assegurados por lei a comunidade ainda enfrenta forte repressão “O peso dessa validação em Jundiaí é muito grande. Muitos vereadores se pudessem invalidariam a Parada. É um desmonte geral e uma intensa tentativa de desqualificação. Isso (a lei) nos reveste de legitimidade”, conta o diretor. “Quando se antagoniza o Bolsonaro, automaticamente se reconhece as atividades e ações de promoção à diversidade. Considerando que historicamente a direita nunca esteve bem colocada nos espaços de militância LGBTQIA+, observa-se que claramente não é uma pauta confortável para o governo PSDB”, completa.
No mês em que se comemora o Mês do orgulho LGBQIA+, o movimento Aliados se esforça para garantir a efetividade de seus direitos “Vamos iniciar uma sequência de conversas com os parlamentares da câmara municipal que estejam minimamente alinhados aos nossos ideais para nos apoiar no mês da diversidade”, conta.
“Não vemos mulheres trans e pessoas LGBTs ocupando cargos de liderança. Não vemos oportunidade para que essas pessoas ocupem esses cargos porque na maioria das vezes elas estão lutando para sobreviver ”
Além da falta de políticas públicas que assegurem direitos e proteção, a comunidade LGBTQIA+ sofre com a constante apropriação da causa por parte de grandes empresas que visam lucrar durante o Mês do Orgulho. “É o famoso pink money. A parada de São Paulo é a maior da América Latina, é um evento que movimenta muito dinheiro e com um público carente dessa representatividade”, comenta Tiana Cauton, vice-presidente do Movimento Aliados. "Há muitas marcas que vendem essa ideia de diversidade, mas que dentro da própria instituição não se vê essa realidade. Não vemos mulheres trans e pessoas LGBTQIA+ ocupando cargos de liderança, não vemos oportunidade para que essas pessoas ocupem esses cargos porque na maioria das vezes elas estão lutando para sobreviver. ”
O Movimento Aliados e a Parada do Orgulho LGBTQIA+
O Movimento Aliados (Aliança pela livre identidade e apoio à diversidade de orientação sexual) surgiu a partir de um ato de resistência ocorrido há cerca de 17 anos em um tradicional bar de Jundiaí que, na época, acolhia e recebia pessoas LGBTQIA+. Uma grande repressão policial sofrida por essas pessoas acarretou em uma manifestação de reivindicação de direitos a essa comunidade. Anos mais tarde, essa manifestação se tornou a Parada do Orgulho LGBT de Jundiaí, uma festa de celebração e reafirmação dos direitos.
“É um movimento que tem por fundamento atuar na defesa de direitos, assistência social, promoção da diversidade e inclusão, onde atuamos em parceria com movimentos organizados, instituições de Jundiaí e também com as secretarias do município por meio da interlocução da Assessora de Políticas para Diversidade Sexual”, afirma Giovanni.
Para a edição de 2022, o grupo Aliados lançou um formulário onde se decidiu o tema do Mês do Orgulho, entre todas as opções, os mais de mil votantes escolheram o tema “Nosso direito, nossa existência”. Giovanni vê a escolha do tema como um sinal: "Mostra o anseio da comunidade de conclamar por direitos”.
De 3 a 24 de setembro o grupo realiza ações e rodas de conversa e no dia 25 acontece a 17° edição da Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Jundiaí.
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