jornalismo
Abuso, palavra corriqueira no vocabulário feminino
A realidade pede que mulheres confiram: roupa, sapato e quem está andando atrás de você na rua
Medo, violência, submissão, aceitação, constrangimento, dor e tormento, essas são algumas das poucas palavras que definem muitas mulheres pelo mundo. O machismo é um mal enraizado na sociedade patriarcal que dominou a mente do ser humano, fazendo com que ele pense que qualquer brincadeira, por mais que se pareça com uma cantada, tem de ser bem vista por qualquer pessoa do gênero feminino, pois de fato faz bem ao ego e é normal.
E o que seria normal em pleno século XXI, quando homens ejaculam em mulheres em transporte públicos; ou quando agarram uma moça a força em qualquer esquina; o que seria normal quando uma mulher tem que cuidar de toda tarefa de casa sozinha apenas por ser uma mulher. A sociedade como um todo está doente, homens superiores e dominantes e mulheres dominadas e rebaixadas que muitas vezes dão força aos pensamentos machistas, por medo de soltar a voz ou por aceitação das “normas”, segmentos esses que sempre visam o bem estar de um gênero apenas.
Partindo da premissa maior do machismo: sou homem e por ser do gênero masculino, logo posso fazer tudo do jeito que eu quiser; qualquer exceção à regra se encaixa na premissa menor: não sou homem e por isso sou submissa aos desejos alheios.
- Andressa Claure, 38, mãe solteira:
“No meu primeiro emprego, sofri como se fosse um abuso, por parte do meu chefe, ele ficou insinuando algumas coisas, até que um dia pediu explicitamente para sair comigo e como eu não aceitei, ele me hostilizou e depois disso acabei pedindo demissão. Isso aconteceu quando eu tinha 17 anos, no meu primeiro emprego.”
O machismo não aumenta o ego, mas sim embrulha o estômago.
Seja em casa, na rua ou no dia-a-dia, o machismo se aplica nos detalhes, muitas vezes em uma simples fala dentro de casa, o problema é conviver com esses detalhes quando se é tão nova, pois desse modo pode se carregar um pensamento opressor para o resto da sua vida, opressão essa causada apenas pelo fato de ser mulher.
- Isabella Lopes, 20, solteira:
“Uma vez meu pai me disse que se ele tivesse um filho homem e o mesmo filho engravidasse uma menina na adolescência seria diferente para ele, pois seria menos “vergonhoso” por ele ser homem, do que eu sendo mulher, por exemplo, eu não engravidei até hoje; até entendo ele, pois meu pai tem muitos pensamentos antigos que foram passados a ele. E na rua não é diferente, um assobio ou até um “linda” de um estranho, me deixa desconfortável.”
Para as mulheres se tornou doloroso existir em determinados espaços, como nas ruas quando cantadas, gritos e buzinadas incomodam, em festas quando seu corpo é tocado sem sua permissão e até mesmo dentro da sua própria casa onde muitas vezes o patriarcado reina.
- Lígia Custódio, 21, solteira:
“O machismo está presente o tempo todo na minha vida desde quando eu nasci. Como eu sou filha única, eu tenho dois irmãos, um mais velho e um mais novo, eu sempre sofri por fazer tarefas domésticas. Minha mãe acha que só porque eu sou mulher eu tenho que fazer tudo e eles, porque são homens não, a mentalidade dela é essa. Eu perguntava por que eu tinha que lavar a louça fazer tudo em casa e meu irmão ficar vendo televisão e ela falava: “porque ele é homem” e eu sempre fiquei mal, porque eu me via como uma empregada dentro da minha casa, fazendo tudo enquanto eles estão lá, fazendo nada”.
Cada vez mais mulheres se tornam apenas estatísticas, além de terem sua violência completamente exposta, ainda existem aquelas que passam por “pequenas situações” de cunho machista que infelizmente viram dúvida “Será que isso foi um assédio mesmo? Ou é coisa da minha cabeça” e isso acaba se tornando rotina na vida delas.+
A sua atitude fere a minha essência.
A cultura do estupro está enraizada na sociedade, onde garotos se desenvolvem com a ideia de que o não de uma mulher pode ser um sim ou um talvez. Eles crescem acreditando que um beijo roubado de uma mulher é extremamente romântico, afinal não é isso que as novelas e filmes mostram? Essa cultura faz com que elas não possam existir das diversas maneiras, á noite, em festas, de saia ou até mesmo dentro dos transportes públicos, além de jugar a vítima como culpada e expor a mesma ao medo de ser assediada ao colocar os pés fora de casa.
Em um mundo em que situações constrangedoras e principalmente violentas que são vivenciadas todos os dias por mulheres se tornou instinto masculino e um processo natural, pensar em investimento pesado e em ações que protejam a mulher podem ser uma das soluções, como uma mobilidade melhor para mulheres, segurança e principalmente em ações educativas, que mostrem para o homem que a mulher não é propriedade dele, ela tem os mesmo direitos que ele principalmente o de ir e vir e, sobretudo o corpo dela não tem um passe livre.