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É na internet que grupos masculinistas se reúnem em chats e páginas, além de seguir infuenciadores, que propagam discursos de ódio contra as mulheres. As jornaleiras Djulia Lopes e Yasmim Dorti encontraram alguns desses homens e descobriram o que há por trás desses comportamentos.

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REPORTAGEM ESPECIAL

Por: Djulia Lopes e Yasmim Dorti - 04 de julho de 2023

No último ano, as denúncias de crimes envolvendo discurso de ódio na internet aumentaram em 67%, segundo dados da Pesquisa ONG Safernet. A pesquisa ainda aponta que o terceiro crime com a maior quantidade de registros foi a misoginia, que teve um crescimento de 251% comparado com 2021. A misoginia é o termo utilizado para descrever a aversão, ou o ódio contra as mulheres.


REDPILL É definido como um homem que se despertou para a natureza feminina, não se envolve em relacionamentos em longo prazo e lidam com mulheres de forma mais desapegada, tal como a pílula vermelha e a pílula branca de “Matrix”, como se tivessem tomado a pílula vermelha

Nas redes sociais, os grupos masculinistas, que se denominam como Redpill, MGTOW e antifeministas, se reúnem em grupos, chats e páginas, além de seguir influencers, que propagam discursos misóginos. Em seus comentários, é possível observar a disseminação do ódio contra as mulheres, que muitas vezes são disfarçados de piadas e brincadeiras, e justificados como “somente meme”. Em um dos servidores do discord, uma plataforma de comunicação entre pessoas que compartilham o mesmo interesse, na qual muitos desses grupos se reúnem, são encontrados comentários como “Mulher não presta mesmo”, “Ela (um interesse amoroso de um deles) é uma vagabunda”, entre outros.

MGTOW É a sigla para "Man Going Their Own Way", em português, "Homens seguindo o seu próprio caminho". Trata-se de um movimento radical em que os homens se opõem à "opressão feminina" e acreditam que toda mulher é nociva e só serve para "atrapalhar" a jornada masculina

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De acordo com a psicóloga
Fátima Regina Negri:

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"o uso excessivo das redes sociais podem desenvolver transtornos mentais e de comportamento"

Muitos homens são seguidores fiéis desse tipo de conteúdo, como é o caso do empresário Evandro Rangel (34), que se declara ativista antifeminista, e consome conteúdos desse gênero " Acho que são mulheres invejosas (feministas) que odeiam homens e sentem inveja deles, por serem o reflexo de tudo aquilo que elas gostariam de ser e ter. Acredito que as mulheres são muito mais privilegiadas pelo sistema jurídico em vários aspectos como, por exemplo, se aposentam cedo, quando agridem homens não vão presas e por aí vai. Existem muitas leis pró-mulher e anti-homem“, explicou o empresário. 

 

Evandro também faz parte de um movimento radical, que acredita que os homens devem romper com as mulheres, e seguirem seu próprio caminho, pois o feminismo as deixou perigosas e nocivas para eles, esse grupo é chamado de MGTOW. Alguns mandamentos que eles seguem são: “não casar, não coabitar com mulher, não engravidar uma mulher, não se relacionar com mulher que tenha filhos”, entre outros.

 

“Futuramente acho que as mulheres vão se arrepender do caminho que estão seguindo, porque com os direitos virão também os deveres e, por sermos biologicamente diferentes, não será todo dever que a mulher vai conseguir cumprir. O homem é a força matriz desse mundo, a mulher não consegue cumprir os mesmos deveres que o homem cumpre, e isso não é um preconceito, é apenas um fato biológico”, ressaltou Rangel.

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#OCalvoDaCampari

Thiago Schutz ficou nacionalmente famoso após virazlizar nas redes sociais com um vídeo em que ele rejeitava o convite de uma mulher para tomar uma cerveja. Segundo o coach, que tomava seu Campari (marca de uma bebida álcoolica à base de ervas amargas e frutas), ceder ao convite feminino para beber cerveja seria uma fraqueza masculina.

Sua página no Instagram  dedicada ao movimento Redpill tem mais de 300 mil seguidores, mesmo após ter ameaçado a atriz e roteirista Livia La Gatto. Ela compartilhou as mensagens que recebeu de Thiago Schutz, depois que publicou um vídeo ironizando as falas misóginas do coach. 

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No videocast "Fala Mesmo", Sâmia Bonfim recebe Liiva la Gatto que falou sobre as ameaças que recebeu de Thiago Schutz

Por outro lado, o advogado Basílio Bernardo (32), que acompanha o movimento Redpill, tem outra perspectiva: "A igualdade de gênero é extremamente benéfica para a sociedade. Trazer a mulher em pé de igualdade em relação ao homem na política, no trabalho e na vida social corrobora para uma luta de direitos e equidade de ideias benéficas para a atualidade e para as próximas gerações,” explicou Basílio 

 

Ele também conta que o movimento nem sempre é compreendido corretamente. “Apesar de disseminado em países desenvolvidos, o assunto aqui no Brasil ainda assusta um pouco. E, quando difundido, a mídia expõe temas poucos relevantes e traz também o cancelamento por conta da abordagem errada de algumas pessoas.”

 

Ele acredita que esse grupo opera em favor dos dois gêneros, e que todos podem se beneficiar se utilizarem os princípios dessa ideologia em suas vidas “O movimento, como citei, tenta ensinar ao homem, e também a mulher, um pouco sobre como não ser estúpido dentro de um relacionamento, saber a hora de sair ou de consertar. Quando não correr atrás ou pedir para voltar. A forma de abordar uma mulher ou sobre como aceitar determinadas exposições e formas de tratamento.” o advogado finalizou.

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Misoginia no mundo dos games

De acordo com a  PGB (Pesquisa Game Brasil), as mulheres, mesmo representando 46,2% do público que consome jogos on-line, são vítimas dentro das comunidades de “gamers”. Muitas vezes são ofendidas, ameaçadas ou até assediadas.

A estudante de Publicidade de Propaganda, Ana Carolina da Silva Argolo, de 20 anos, joga Valorant nas horas vagas e conta que sofreu ataques misóginos. “Não é surpresa para ninguém que o Valorant é um jogo que majoritariamente homens jogam na maioria das vezes. Comigo é bem tranqüilo, mas teve um dia em específico que eu estava jogando de boa e assim que eu abri o microfone no chat de voz, um cara já começou a me ofender e foram xingamentos pesados, do tipo falando que eu merecia ser violentada, falando do meu corpo, falando que minha mãe deveria ter me abortado, durante a partida inteira. Me senti péssima, chorei horrores porque eu não tinha feito nada, sabe? E ele estava só me insultando por ser mulher, sendo que com meu namorado nunca aconteceu isso”, explicou. “Depois disso, eu raramente ligo meu microfone e mudei meu nick (nome de usuário) para outro que não mostrasse que sou mulher”, ressaltou.

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“Esse discurso exacerba o preconceito, expõe as consequências nocivas sobre a liberdade de expressão. Sem falar que pessoas intolerantes possuem dificuldades em relacionar-se”

De acordo com a psicóloga
Fátima Regina Negri:

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Ainda segundo a psicóloga Fátima Regina Negri, o uso excessivo das redes sociais podem desenvolver transtornos de comportamento antissocial, manias, ansiedade, depressão, transtornos de atenção e aprendizagem. Além disso, Fátima explica que os adolescentes ingressam nesses grupos para exercitar papéis sociais, tendo a necessidade de pertencimento. “A Internet é muito vasta  depende de onde este jovem está inserido, em que grupos está inserido. Mas tem influência sobre o comportamento deste jovem a partir de quando ele sente a necessidade de pertencimento”.

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51% dos gamers são mulheres

Foi o que revelou a 9ª edição da Pesquisa Game Brasil, que ouviu mais de 13 mil pessoas de todos os estados do país em 2022.

Foi vítima de misoginia na internet? Saiba como agir:

Em casos de ataques misóginos, é possível denunciar em delegacias da mulher ou em unidades da Polícia Federal. Outro caminho possível é se dirigir até uma delegacia especializada em crimes cibernéticos, porém no Brasil, elas existem apenas em algumas capitais.  

 

Toda atividade realizada na internet, pode ser localizada através do IP (Internet Protocol), que é um endereço exclusivo, que identifica a máquina.

 

Para quem busca auxílio emocional, existem também grupos que oferecem acolhimento gratuito para as vítimas.

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