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MEDO NO ESCURO

Alunos e moradores se sentem inseguros no bairro Jardim América, em Campo Limpo Paulista-SP, local onde o Centro Universitário Campo Limpo Paulista (UNIFACCAMP) está localizado. Pontos de inseguranças foram levantados no trajeto entre a instituição e o transporte público. Pouca iluminação é o que mais incomoda.

Por: Caroline Camargo, Khananda Beatriz, Matheus Henrique Pires, Mayara Martins, Izabella Politi e Yandra Restivo - 25 de novembro de 2022

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REPORTAGEM ESPECIAL

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), em Campo Limpo Paulista, o primeiro semestre de 2022 apresentou um crescimento de quase 110% no índice de roubos e furtos, comparado com o mesmo período do ano anterior. De janeiro a março, este índice é ainda maior, chegando a 160%.

 

Além dos números oficiais, esse aumento pode ser percebido também através dos portais e páginas online, os quais a população recorre para pedidos de ajuda e denúncias em casos como estes. Em menos de uma semana, a página Equipe São José, no Facebook, publicou 11 denúncias de roubos de veículos na região. 

 

No primeiro mês do ano, foram 28 furtos registrados no município. Nos meses seguintes é perceptível o aumento de ocorrências, chegando a 54 em fevereiro e 73 em março. De acordo com a Polícia Civil de Campo Limpo Paulista, desde setembro deste ano  já foram registrados 70 crimes de roubos e furtos na cidade, dos quais 70% são identificados como roubos de veículos.

 

Entre os registros mais recorrentes na ouvidoria da Prefeitura do município, estão as solicitações de trocas de lâmpadas das vias públicas e intensificação da fiscalização na região.

 

Em uma pesquisa realizada com 110 alunos da comunidade acadêmica do Centro  Universitário Campo Limpo Paulista, foi possível observar uma maior incidência de insegurança, principalmente após o término das aulas. 

 

Os motivos na área externa da faculdade são diversos, como a pouca iluminação e assaltos, bem como medo da violência e ruas desertas. Já na parte interna da faculdade há dois motivos principais, como a falta de estacionamento de automóveis para alunos e o não funcionamento das catracas.

No gráfico abaixo, também é possível observar que as alunas são as que mais se sentem inseguras:

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Composta por representantes de alunos, professores, profissionais técnico-administrativos e representantes da sociedade civil, a Comissão Própria de Avaliação (CPA) existe na Unifaccamp desde 1999 e visa a reflexão e aprimoramento de sua atuação na faculdade, conforme a missão e objetivos impostos pela instituição. 

 

O processo de identificação dos fatores que interferem, tanto positivamente, quanto negativamente no desempenho propicia a compreensão e favorece a gestão acadêmico-administrativa da Faccamp.  

 

Em uma conversa com o coordenador da CPA, o professor Antonio Carlos Camacho, alguns pontos em relação à sua atuação dentro da instituição foram explicados:

O que exatamente é a CPA e qual a função dela na faculdade?

“A CPA é um órgão autônomo, uma exigência do MEC e todas as fragilidades que os alunos reclamam e informam, nós mostramos do "jeito que sai", é bem independente, não precisamos ficar floreando nada não. Então quando vocês reclamarem, por exemplo de segurança, dá um conceito baixo, mas a direção vai ter que tomar uma providência. Assim como já tomaram providências em relação ao estacionamento de motos, porque os alunos reclamavam que haviam muitos roubos de moto, então agora tem um estacionamento com segurança”.

 

Antônio Carlos aproveitou e esclareceu alguns pontos e medidas tomadas para aumentar a segurança no campus.

 

“Em relação a segurança, a Faccamp contratou alguns policiais quando estão à paisana, para ficar em frente aos prédios. Ali no estacionamento dos carros sempre tem duas ou três pessoas, que são policiais, acho que só tem um que é funcionário da Faccamp, que cuida dos carros e organiza lá, o restante são policiais à paisana. Ela (Faccamp) tem tomado providências em relação a isso, mas se ainda assim gera insegurança para vocês, se pode também citar na questão aberta lá nos comentários.  Você pode escrever, e sem medo de ser feliz pq ninguém será identificado, no relatório não vem nome, RA e nada. É tudo sigiloso”.


Qual o processo para resolver as reclamações ou atender a sugestões dos alunos?

“Quando termina a avaliação, nós recebemos os dados e fazemos o levantamento, e aí encaminhamos para todos os setores da faculdade, como administração, direção e etc”.


Como enviar reclamações ou sugestões à CPA?

“É aberto no questionário da instituição. Quando você acessar o portal é só responder as questões, e lá no final terá um campo aberto, onde você poderá fazer críticas e sugestões”.


Tirando o estacionamento de motos, você poderia dar alguns exemplos de demandas atendidas pela CPA?

 

“Melhoria no sinal de Wi-Fi; Reforma de alguns banheiros; Manutenção elétrica; Hidráulica; Multimídias e computadores nas salas; Segurança e entre outros”.

A COMUNIDADE FALA

Foi em um grupo de Whatsapp criado em maio deste ano pelos moradores do bairro Jardim América, denominado “Vigilância Jd América”, que encontramos Fernando Dias, um homem de 52 anos que possui três filhos e que teve a sua casa assaltada no ano de 2017. Edson e sua esposa, Carla Dias, estavam trabalhando ansiosos no dia do ocorrido, afinal era véspera de feriado, Dia das Crianças, e ninguém estava esperando pelo que viria a acontecer:

Meus filhos estavam na escola e eram umas dez para às onze quando a minha esposa me ligou apavorada dizendo que entraram dentro da nossa casa. Saí imediatamente do serviço para ver o que tinha acontecido,

disse o morador.

Confira o áudio:

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Era para ser a véspera de um dia feliz: “As crianças chegaram na sequência, viram o que tinha acontecido e já ficaram apavoradas, choraram bastante”.

Fernando conta no áudio que quando chegou, a sua casa tinha sido invadida. Segundo o morador, levaram a televisão, videogame, caixas de som, micro-ondas, um purificador de água, e comeram até o que tinha dentro da geladeira. Ao saírem, também deixaram a casa inundada, devido à mangueira do purificador. 

A vizinhança

Em um momento da descrição, o morador cita algo que o incomoda bastante em meio a situação, a vizinhança. Sua vizinha foi a primeira personagem, ela que viu pessoas estranhas na casa, o que levou a ligar para a esposa de Fernando, Carla. A mesma a aconselhou a chamar a polícia imediatamente e, após o telefonema, pensando que os homens entrando na casa seriam conhecidos do casal, a vizinha seguiu para realizar os seus afazeres do dia a dia.

Acompanhe o depoimento:

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Das medidas de segurança:

precisamos ficar presos dentro de nossas próprias casas?

Fernando também conta as providências que tomou junto à sua família depois do assalto, ouça:

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Já a situação do advogado, Hélio Vulcano, foi um pouco diferente. A vítima também foi encontrada no mesmo grupo de Whatsapp e descreveu o medo que sentiu ao ser assaltado assim que saiu do trabalho. 

 

Era noite quando Hélio estava indo embora do seu escritório, que fica na Rua Costa Rica, no bairro Jardim América. Ao chegar no carro, foi abordado por dois ladrões que estavam armados, segundo o advogado, mal dava para ver os rostos dos assaltantes.  

 

“Eles apontaram a arma na minha cabeça e fiquei sem reação. Levaram o meu carro”, disse Hélio. 

 

Após o ocorrido, a vítima conta como foi difícil recuperar bens novos. Não encontraram os assaltantes e muito menos o veículo.

 

O caso aconteceu há seis anos e, desde então, a violência no local vem causando desconforto em muitos moradores que ficam prestando atenção na movimentação do bairro.

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Segundo relato

Veja captura de tela do grupo "Vigilância Jardim América" 

A SEGURANÇA DO CAMPUS

Questionados sobre os fatos inseguros que já ocorreram na instituição, dois dos responsáveis pela segurança, Marcos Henrique (38) e Aparecido Vieira (64), relatam que, nesse ano, nenhum registro de furto ou reclamação chegou até eles, contudo, durante a pandemia ocorreram alguns casos. 

Aparecido conta que antes da pandemia iniciar em 2020, duas prisões foram efetuadas por tentativa de furto de carro, antes do covid-19 também ocorriam muitos casos envolvendo as  motos, o que levou a criação de um estacionamento para os alunos que vão de moto para a faculdade, conquista adquirida pela CPA (Comissão própria de avaliação). 

Esse estacionamento contava com uma cobrança por semestre de mais ou menos R$50,00 na época. Hoje, o estacionamento ainda funciona e os alunos pagam um valor reajustado de R$110,00 por semestre que pode ser pago em parcelas caso o aluno queira. 

Essa foi uma das medidas tomadas que ajudaram a diminuir o número de furtos de motos e na fiscalização, que agora é mais agrupada e facilita os seguranças na hora de identificar casos que pareçam suspeitos. Além do estacionamento de motos, também é disponibilizado para os alunos, pelo valor de R$30,00 semestrais, um local para bicicletas. Nenhum registro de furto que envolva bicicletas foi registrado até o atual momento.

Os seguranças ressaltam que não há possibilidades de um estacionamento para os carros dos alunos devido ao volume de carros, fazendo com que eles fiquem estacionados nas ruas do bairro. Antes da paralisação geral do mundo pela covid, os seguranças faziam uma ronda pelo bairro para vigiar os carros dos alunos estacionados na rua. Com um automóvel disponibilizado pela faculdade, a ronda acontecia duas vezes por noite.

E foi em uma dessas rondas que conseguiram efetuar prisões em flagrante tentativa de roubo. Não obtivemos mais informações sobre esses casos. Esse tipo de fiscalização continua sendo feita atualmente. 

Aparecido conta ainda que em 2019 dois assaltos a mão armada aconteceram no bairro, uma em frente ao prédio 3, na Rua Guatemala, e a outra na esquina de um restaurante que ficava na esquina da Rua Nicarágua com a Rua Los Angeles, porém até o momento, também não conseguimos encontrar nenhum registro desses casos. Hoje, os seguranças têm um local específico para realizarem seu trabalho: uma guarita que está em funcionamento há três anos. 

Além dos funcionários que cuidam da segurança da Unifaccamp, algumas funcionárias ficam espalhadas pelo Campus, cada uma na entrada de um dos prédios da instituição. Elas contaram como funciona o esquema de segurança de entrada.

Regilaine (44) é uma das funcionárias que fica na porta de um dos prédios. Além de dar informações aos alunos e alunas, ela tem a responsabilidade de observar quem entra e quem sai do prédio. “A gente fica observando quem entra e se achamos suspeito, entramos em contato com a guarita e eles vêm aqui averiguar”, diz. Tanto Regilaine quanto Aparecido dizem que a maioria dos casos suspeitos são de alunos com pouca frequência na faculdade e que, portanto, não são rostos familiares.

A mesma aproveitou para dizer que não se sente segura no caminho de volta para casa, justamente pela pouca iluminação na maior parte do caminho entre o Campus e a rodoviária.

 

“Eu saio muito tarde do trabalho e por isso sinto medo”, conclui.

Em todos os prédios, para ajudar a evitar a entrada de estranhos, existem catracas que, por enquanto, se encontram desativadas. Funcionários da instituição lembram da facilidade que era quando as catracas funcionavam, já que com elas, só quem realmente era aluno podia entrar nas dependências dos prédios. Entramos em contato com a assessoria da Unifaccamp e até o atual momento não obtivemos respostas sobre a situação das catracas.

A bibliotecária Aline trabalha há 11 anos na biblioteca da Unifaccamp e sua companheira de trabalho, Samea (29), confirmam o sentimento de insegurança na hora de ir embora. Samea se lembra de relatos que ouviu no caminho de volta para casa de uma aluna que sofreu nesse ano uma tentativa de assalto próximo da faculdade. 

Além da equipe de segurança, funcionários e alunos, foram entrevistados dois comerciantes que trabalham na frente da faculdade. Eliete, que vende lanches há pouco mais de dez anos na rua principal do Campu, diz que antes da pandemia o número de alunos era muito maior e os comentários de tentativas e furtos na faculdade e região eram recorrentes. Porém, nenhuma dessas situações foram presenciadas pela dona do trailer que também afirma nunca ter sofrido qualquer tentativa de assalto.

Já Noel, vendedor de pipoca conhecido pela comunidade, relata que os próprios alunos já disseram a ele que roubos de celular teriam acontecido nesse ano nas redondezas do Centro Universitário. O pipoqueiro trabalha há oito anos nas ruas da Unifaccamp e reforça que tanto na faculdade quanto no caminho até a estação é necessário mais iluminação. Para ele, isso melhoraria a segurança em vários aspectos. 

Todos os outros entrevistados concordam que a melhoria da iluminação nesta região é algo positivo para todos. Segundo o que pudemos constatar, mesmo com os esforços da Unifaccamp em garantir a segurança, os alunos ainda se sentem inseguros com a falta de iluminação e o aumento respectivo de furtos no bairro da faculdade.

Confira abaixo um vídeo que nossa repórter, Izabella Politi fez para mostrar o quão inseguro é o caminho entre o Cantro Universitário Campo Limpo Paulsta e as estações ferroviária e rodoviária.

Aluna grava o percurso entre a faculdade e é abordada no trajeto.

Confira o vídeo:

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Cadê a

LUZ?

O sistema de iluminação em LED recentemente foi instalado em outras cidades do estado, algumas próximas e outras nem tanto de Campo Limpo Paulista. Em Franco da Rocha, a Prefeitura trocou, desde o ano passado, mais de mil pontos de iluminação da cidade por lâmpadas em LED, e o cronograma para 2022 ainda abrange cerca de doze bairros para mudanças do tipo. 

 

Já em Pindamonhangaba foi apresentado, em agosto deste ano, um programa de modernização e eficientização do parque de iluminação pública, que substituirá mais de 23 mil luminárias convencionais por LED e estima-se que trará uma economia de 60% na conta de luz no município, além de um aumento de 120% no índice de iluminação das ruas.

 

Entramos em contato com a prefeitura de Campo Limpo Paulista sobre as questões de segurança e da iluminação no bairro Jardim América. Sobre a segurança, foi informado que cerca de quarenta novos Guardas Municipais irão atuar na região a partir de 2023, após passarem por um treinamento que vai até o final deste ano. 

 

Já em relação a iluminação, foi relatado que, apesar da região sofrer com constantes furtos de cabeamento, a troca de iluminação está no cronograma da Secretaria de Serviços Públicos, e já vem acontecendo, inclusive na região à Unifaccamp. 

 

MORADORES SE ORGANIZAM

O bairro do Jardim América em Campo Limpo Paulista possui dois grupos de whatsapp para interação dos moradores. O principal motivo é para falarem sobre questões relacionadas à segurança. 

Um desses grupos criou um abaixo assinado que reivindica o patrulhamento policial ostensivo, tanto no período diurno quanto no noturno. O documento possui atualmente 92 assinaturas, o que corresponde a 61,3% dos membros do grupo.

Além disso, os membros destes grupos tentam alertar uns aos outros sobre possíveis golpes. Recentemente, houve um relato de uma moradora sobre um grupo de homens que tentaram se passar por funcionários da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que tentam adentrar as casas do bairro, uma moradora desconfiou pois eles pediram para ela abrir o portão de sua residência  para fazer a leitura do relógio sendo que o mesmo fica na rua.

Já o outro grupo (com 72 membros) foi criado por Anselmo Schadt, que além de ser morador do bairro é Guarda Municipal, e busca alertar a vizinhança com dicas de segurança, como: manter o contato com os vizinhos de maneira regular; instalar, se possível, alarmes e câmeras de segurança em sua residência; alertar os vizinhos caso vá viajar entre outros.

O Jornaleiro pediu ao policial dicas para alunos se manterem em segurança nas imediações da Unifaccamp e no trajeto até a estação de trem e o terminal rodoviário:

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Tente sempre andar em grupo;

Mantenha o celular guardado enquanto caminha;

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Procure andar perto de comércios como farmácias e supermercados que ficam normalmente aberto até mais tarde.

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