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Foto: Bruna Nogueira
Foto: Bruna Nogueira
Os perigos de um relacionamento abusivo
A cultura da culpabilização das vítimas é infelizmente algo comum, aumentando cada vez mais a quantidade do femicídio no país
Os relacionamentos abusivos são mais comuns do que parecem, o que acontece é que a vítima demora muito a perceber o que está acontecendo em seu relacionamento e mesmo quando percebe, muitas vezes se sente culpada por aquilo e pena do seu agressor, defendendo o parceiro e tentando justificar seu comportamento e inventando desculpas a respeito das “motivações” para tais atitudes, se vendo assim sem saída e não conseguindo de fato se livrar da situação.
É o caso de J.N, que conta já ter passado por isso. Ela diz já ter sofrido ameaças de morte por um antigo parceiro, mas ter se sentido culpada por um bom tempo, por achar ser a causadora da situação. Tudo começou quando ela encontrou mensagens de baixo calão e constrangedoras no celular do parceiro, ele então descobriu e a agrediu, além disso a ameaçou de morte caso contasse para alguém, ali começava o pesadelo da vida de J.N, porém ela ainda não havia percebido isso. “Chorei a noite todinha em silêncio e no outro dia acordei me sentindo culpada, então fui atrás dele e pedi desculpas, continuamos o namoro e eu achei que nunca mais se repetiria”, diz ela.
Porém, isso apenas piorou, as agressões físicas e verbais passaram a ser frequentes no relacionamento, J.N diz que não podia cobrar nenhum tipo de satisfação que era chamada de biscate e vadia, era obrigada muitas vezes a ter relações sexuais sem querer e as ameaças nunca paravam. “Ele me ameaçava com canivete, me pressionava contra parede, me sufocava e eu achava que iria realmente morrer”, conta.
Além disso, ela conta que ele a colava para baixo, fazendo com que ela não o deixasse. “Eu não sabia como me livrar, afinal ele sempre repetia que ninguém iria me querer, pois eu era gorda e eu ia ficando e implorando para que ele me tratasse bem e ele dizia que ele era assim, que se eu não quisesse tinha gente que queria e eu me calava”, diz.
O tempo passou e nada mudava, decidiram até morar juntos e J.N deu sua moto e suas economias de entrada, pois de acordo com ele, teria que ser tudo no nome dela, ela não podia sair com amigos, que era procurada por ele e ameaçada de morte frequentemente, nem na igreja podia ir, porque ele dizia que ela ia atrás de “machos”.
Isso se prolongou por um bom tempo, até que com a ajuda de algumas pessoas, ela resolveu dar queixa, após ter ido um dia em uma sorveteria com amigos e ele a ter visto e ido em sua casa para matá-la, porém ele chegou antes que ela em sua casa e sua mãe conseguiu avisá-la a tempo. No dia seguinte foi encorajada a dar queixa e ele nunca mais a procurou. “Eu estava com vergonha der ter me permitido viver tudo aquilo, mas provavelmente ele foi chamado para uma conversa, pois depois disso me deixou em paz”, conta. Hoje depois de ter passado por esse pesadelo, ela é casada e mãe.
Assim como J.N, muitas pessoas passam por isso o tempo todo e nem todas têm a mesma sorte. E embora a sociedade dê maior visibilidade às relações abusivas entre casais heterossexuais, o abuso ocorre também entre parceiros do mesmo sexo. Em relação à idade, estudos recentes demonstraram que adolescentes brasileiros afirmaram ter sofrido algum tipo de abuso no namoro, o que inclui um novo público nessa perspectiva. Sabe-se também que no Brasil mulheres jovens são as maiores vítimas de relacionamentos abusivos. Na Pesquisa DataSenado 2013, 30% das mulheres disseram não confiar nas leis e nas medidas formuladas para protegê-las da violência. Somado a tudo isso, a nossa sociedade persiste na cultura da culpabilização das vítimas, aumentando assim cada vez mais o número do feminicídio em nosso país.
Porém, nunca é tarde para evitarmos tudo isso, pois se você sofre algum tipo de abuso ou conhece alguém que passa por isso, existem formas de prevenção e muitos meios de ajuda. Qualquer pessoa que precisar de informações ou queira fazer denúncia de um relacionamento abusivo pode ligar de forma gratuita e anônima para o Ligue 180. A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um serviço que ouve e orienta mulheres sobre seus direitos, além de receber denúncias de violência, sugestões, reclamações, elogios e outros serviços. Também recebe e encaminha ligações sobre outros tipos de violência contra a mulher, como, por exemplo, Cárcere Privado, Exploração Sexual e Violência Obstétrica. Além disso, existem muitas ONG’s de prevenção e defesa da mulher, que podem ser encontradas facilmente com pesquisas na internet.
Sendo assim, nunca deixe de pedir ajuda e saiba que você mulher, é digna de todo o valor, não deixe ninguém te dizer o contrário, você nunca estará sozinha, por isso, em um caso desses, peça ajuda e denuncie.
Foto: Bruna Nogueira