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jornalismo

O desafio de ser mulher todos os dias

Foto: Simone Costa

Há alguns dias atrás, notícias sobre casos de assédio sexual contra mulheres em transporte público viraram pauta na mídia e nas conversas e discussões acaloradas. Esses fatos mostram uma realidade vivida por todas as mulheres todos os dias, aquelas “piadinhas”, agressões verbais, físicas, sexuais e diversas outras formas que caracterizam uma sociedade verdadeiramente machista e que a todo o momento coloca a mulher como um objeto, como um ser inferior aos demais. Seja no transporte, na rua, em casa, em uma simples caminhada a mulher corre perigo.

Foi o que aconteceu há pouco mais de um ano com a Secretaria S., 23, que estava esperando no ponto de ônibus que fica a poucos passos de sua casa para ir ao trabalho, estava chuviscando, ela carregava um guarda-chuva e vestia roupas de frio, não havia ninguém esperando no ponto junto com ela e por volta das 7h da manhã ela sofreu uma tentativa de estupro.

Ao ser abordada de surpresa por trás, o homem tapou sua boca com uma mão enquanto trazia uma faca na outra e nisso ela ia sendo arrastada para dentro da casa dele, “de fato sim ia ocorrer um estupro e talvez até me matar depois” recorda S.. O sujeito era o marido de uma vizinha, e tinha acabado de ir deixar a filha de carro na escola. Ela conta que até chegou a entregar a bolsa para ele pensando se tratar de um assalto, mas ele jogou a bolsa no chão na mesma hora. Nesse meio tempo ela caiu e então ele a atacou com a faca que fez um corte na palma da mão dela quando se defendeu “só passava na minha cabeça que eu iria morrer. Eu só queria que aparecesse alguém conhecido na hora para me ajudar” confessa. Naquele momento ele entrou na casa para pegar algo e S. viu a chance de escapar e saiu correndo pela rua e gritando socorro até sua casa.

“Mesmo não acontecendo o que ele tinha em mente, com todo o ocorrido eu me senti vítima, me senti suja, eu gritei, eu lutei pra escapar daquele nojento. Tento não pensar na tentativa de estrupo que sofri como um trauma na minha vida, mas sim como a vez em que fui tão forte que consegui fugir das mãos daquele canalha, maldito que tentou me pegar. Acho que depois de tudo que passei, consigo derrotar qualquer coisa na vida.” emociona-se.

Este é um caso em que a vítima conseguiu fugir do agressor, porém há diversos outros que isso não acontece e que infelizmente passa despercebido ou apenas vira estatística. S. denunciou o caso que aconteceu em julho de 2016, porém foi registrado como lesão corporal e até hoje nada aconteceu.

Foto: Simone Costa

O temor é constante entre elas, como relata a Técnica em Administração Maria Suelen de Almedas Costa, 18, que diz que já se sentiu ameaçada muitas vezes por ser mulher “mas a que fiquei com um medo real foi quando eu estava a caminho da escola e um cara que estava vindo sentido contrário ao meu chegou perto de mim e falou ‘que bucetão hein’, na hora só senti medo e raiva.” revolta-se. Em seguida continua explicando que sentiu medo, pois sabia que mesmo se respondesse aquele comentário obsceno de forma defensiva ela sofreria alguma consequência, a sensação de impotência diante daquilo e ter que ignorar, como se não tivesse a atingido emocionalmente causou uma profunda frustração nela. Por fim ela declara “Sinto muito medo toda vez que ando sozinha e procuro ficar sempre alerta, na maioria das vezes ando com cara de brava e se vejo algum grupo de homens eu troco de calçada pra não ter que sentir olhares ou ouvir comentários parecidos com o que citei”.

Foto: Simone Costa

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