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O pódio da beleza feminina

Concursos de beleza entram na discussão de exclusão feminina dentro da própria comunidade

Por: Mayara Martins - 04 de outubro de 2022 às 22:05



Coroação de um concurso de beleza (reprodução do GGN, Jornal de todos os Brasis)


Na semana passada a cidade de Várzea Paulista elegeu suas rainha e princesas para a festa das orquídeas que vem a acontecer em outubro. O evento contou com jovens de idade entre 16 e 25 anos e belezas diversificadas, rendendo vencedoras radiantes para o orgulho da cidade. Mas será que esses concursos de beleza ainda cabem em uma sociedade cada vez mais interessada em desconstruir padrões estéticos?


No quesito aparência feminina, que sempre foi motivo de discussões, a mulher passa por aprovação e imposições de padrões a séculos. Na idade média, corpos com o ventre avantajado eram considerados padrões na época, já no século XIX, os seios fartos e as coxas robustas de uma mulher simbolizavam a beleza e riqueza que possuíam.


"Ser Miss não é só ter um rostinho bonito, ser miss é ser uma voz para todas as mulheres.".

Durante toda a sua vida o padrão de beleza de uma mulher foi definido e mudado, sendo um dos principais grupos que definem esse padrão os concursos de beleza. Nessas competições estéticas, o perfil perfeito é idealizado, encontrado e finalmente exposto para que todas as outras mulheres sejam no mínimo parecidas com as famosas misses. Atualmente, algumas pessoas podem achar que esse tipo de evento cause rivalidade feminina e problemas na autoestima de várias mulheres, mas é possível que até os concursos tenham algo que ninguém possa ter levado em consideração.


As mulheres altas e magras são o padrão perfeito para o mundo da moda contemporâneo. Segundo os profissionais que trabalham nessa área, uma modelo tem de ter no mínimo 1,72 de altura, 90 centímetros de quadris e 60 centímetros de cintura. E é esse padrão que os concursos de beleza buscam em suas candidatas.



Miss Várzea Paulista 2021 Cinthia dos Santos (arquivo pessoal)

Segundo uma notícia publicada no ano passado no UOL, pela colunista Nina Lemos, para se inscrever em concursos de beleza, a mulher precisa ser solteira e não ter filhos, o que já exclui 67 milhões de mães, sobrando assim 31% de solteiras, quase 20 milhões de mulheres. Essa regra exclui qualquer possibilidade de uma mãe fazer parte do padrão estético estabelecido, ou trocando em miúdos, de ser considerada bonita.


Apesar disso, o mundo da beleza ajuda aquelas que não tem autoestima dando uma nova cara para o que antes era muito misógino, hoje já pode ser inclusivo e dar espaço para que todas as mulheres possam participar. A Miss Várzea Paulista Ibero América 2021, Cinthia dos Santos (28), viu nesses concursos uma maneira de ajudar sua autoestima, a desenvolver suas relações sociais e uma maneira de dar espaço para jovens que sentiam o mesmo que ela, “Ser Miss não é só ter um rostinho bonito, ser miss é ser uma voz para todas as mulheres.”, diz a miss que já participou de quatro concursos, sendo três de miss e um de rainha.


A jovem sempre se interessou pela moda e a câmera era como uma velha amiga, mas até então nunca tinha tentado ou investido em si mesma dessa maneira, até que a oportunidade surgiu na cidade de Várzea Paulista e a experiência a ajudou em vários aspectos de sua vida. Cintia sabe que os concursos podem parecer ultrapassados, mas acredita que aos poucos as mudanças vão continuar acontecendo, como por exemplo em concursos como o Miss Mundo, que em 2014 aboliu a prova de maiô e a substituiu por uma prova onde as candidatas criam e protegem projetos sociais.


Hoje, com a internet, essas mulheres têm um poder e uma influência muito maior. A finalista do Miss Inglaterra fez algo considerado inacreditável nesse meio, escolhendo não usar maquiagem em sua prova final. A candidata disse que mais do que mostrar que tem beleza sem maquiagem, ela queria que outras mulheres vissem esse poder de escolha podendo estar ou não maquiadas e mesmo assim se sentirem lindas e empoderadas.


Para os profissionais que convivem com essas mulheres, vários desafios são lançados. Muitas das moças que chegam nas agências estão com problemas para se aceitarem e se verem como belas. “Nós temos meninas com 13 anos de idade já com 1,80 de altura e na escola sofrem bullying por esse motivo”, diz o agenciador Wanderlei Massaro (54), que trabalha na área desde 1984. Segundo ele, as jovens chegam com a autoestima baixa, mas ao conviver com meninas como elas, começam a enxergar o tipo de beleza que possuem. Sua agência disponibiliza vários cursos onde as meninas podem ir para aprender, desde a postura até a modelar, e assim desenvolver o gosto pelo universo da beleza e da moda. Para Wanderley, o mundo de modelos é muito difícil e saber que existem outras mulheres com o mesmo tipo de insegurança e que juntas podem superar isso, alivia toda essa pressão colocada em cima de seus corpos tão jovens.


Os concursos ainda passam por suas mudanças e podem até manter seus costumes, contudo é evidente que agora, as mulheres que participam constroem uma voz que influencia e ajuda outras mulheres.



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